B&F Agro, de grãos e insumos, entra em recuperação judicial
Processo envolve dívidas de R$ 382 milhões do grupo que tem sede em Cianorte, no Paraná
O grupo B&F Agro, especializado na produção e venda de grãos, revenda de insumos e locação de veículos, máquinas e equipamentos, entrou em recuperação judicial. O pedido do grupo, que tem sede em Cianorte (PR), foi aprovado pelo juiz Juliano Albino Manica, da 3 Vara Cível e Empresarial Regional de Maringá, no dia 22 de novembro.
Como outros grupos do agro nacional que recorreram à proteção contra os credores, o B&F Agro também afirma ter sido afetado por fatores como queda nos preços das commodities e alta dos custos de produção.
O processo envolve dívidas de R$ 381,96 milhões com 317 credores. Os maiores são Banco do Brasil (R$ 58 milhões), Caixa Econômica Federal (R$ 51,5 milhões) e Itaú Unibanco (R$ 27,5 milhões).
Integram o Grupo B&F Agro os produtores Enivaldo Barella Tironi, sua esposa Leila Regina Manhani Barella e o filho Mateus Manhani Barella, e as empresas controladas pela família — B&F Agro Comércio de grãos e Insumos Agrícolas Ltda, M M Locação Eirelli e Barella & Filhos Administradora de Imóveis Ltda.
Com receita de R$ 333,15 milhões em 2023, o grupo tem três fazendas, quatro unidades de venda de grãos e três unidades de recebimento de grãos.
Antes de entrar em recuperação judicial, a empresa foi acionada na Justiça por credores pedindo o bloqueio de valores para garantir o pagamento das dívidas. Há registro de pedidos de bloqueio feitos por Banco John Deere, Bradesco, Banco CNH Industrial Capital, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Cooperativa de Crédito Sicoob Metropolitano, Deutsche Sparkassen Leasing do Brasil Banco Multiplo, Unicred Vale, Cooperativa de Crédito Poupança e Investimento Dexis Sicredi, Banco Inter, Bayer, Itaú Unibanco e Cargill.
Como parte da decisão, o juiz suspendeu as execuções judiciais contra o grupo pelo prazo de 180 dias e definiu como administradora judicial a advogada Sabrina Becue, do escritório Scalzilli & Becue.
O grupo terá até 27 de janeiro de 2025 para apresentar o plano de recuperação judicial. “Estamos elaborando uma proposta de geração de receita e pagamento das dívidas para apresentar aos credores. Uma das opções poderá ser a venda de unidades produtivas isoladas (UPI), como é previsto em lei, mas não há certeza sobre isso”, disse o advogado que representa o grupo B&F Agro Jean Rodrigo Cioffi, dono da JRC Law, especialista em reestruturação no segmento agro.
Segundo Cioffi, o grupo enfrenta um cenário difícil, mas superável. “Essa crise é superável porque estamos falando de um grupo sério, que conhece profundamente o mercado. Com a renegociação com os parceiros e adequação das atividades, certamente poderá prosseguir gerando emprego, renda e benefícios a toda a sociedade”, afirmou.
Fundado em 2012, o Grupo B&F Agro atua no Paraná e no Mato Grosso do Sul, com o cultivo de soja e milho em 3.475 hectares, e revenda de insumos agrícolas, além dos serviços de análise de solo e armazenagem de grãos.
No pedido de recuperação judicial, a empresa alega que fatores, como a crise hídrica, o aumento nos custos de produção e de insumos, a desvalorização do real, a queda nos preços das commodities e a inadimplência de clientes das revendas causaram uma crise de liquidez com impacto direto na geração de caixa do grupo.
“Por conta dessa inadimplência, o grupo procurou adequar o seu fluxo de caixa com tomada de recursos de curto prazo no mercado, esperando que a inadimplência seria revertida, o que não aconteceu”, afirmou o advogado.
Na safra 2021/22, a produção de grãos em Mato Grosso do Sul, onde o grupo cultiva soja e milho, teve perdas por causa da falta de chuvas. Em Itaquiraí (MS), onde está uma das fazendas do grupo, a Aprosoja MS classificou 97% de área produtiva como ruim para o cultivo. Além disso, houve disparada no preço dos insumos agrícolas, com alta de quase 288% de janeiro de 2020 a março de 2022.
Na safra 2022/23, o preço da soja passou de R$ 190 a saca para R$ 120, queda de 37%. A saca do milho, por sua vez, caiu de R$ 100 para R$ 35. Na safra seguinte, a queda de produtividade por causa da seca e das altas temperaturas foi o que mais afetou a rentabilidade do grupo, disse Cioffi.
Na área de revendas, houve aumento nos preços dos insumos agrícolas na safra 2023/24 ao mesmo tempo em que os preços dos grãos caíram, causando queda nas vendas e aumento da inadimplência. De acordo com o advogado, o grupo B&F recorreu a empréstimos de curto prazo para honrar com seus compromissos a juros altos, o que tornou a situação financeira do grupo insustentável.
Cioffi disse ainda que o grupo está focado no plantio da safra 2024/25 de soja, para otimizar a produção e obter melhor resultado com o menor custo. O grupo também negocia neste momento com produtores a quitação das dívidas com as revendas, para que esses valores ingressem no caixa o quanto antes.